quinta-feira, 9 de outubro de 2014

FARDA FARDÃO CAMISOLA DE DORMIR - APRESENTADO POR ANDYARA


Fábula para acender uma esperança
JORGE AMADO
BIOGRAFIA
Jorge Amado (Jorge Leal Amado de Faria) nasceu na Fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia dia 10 de agosto de 1912, filho do fazendeiro de cacau Cel. João Amado de Faria e de D. Eulália Leal Amado.
Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância e aprendeu as primeiras letras. Cursou o secundário no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador - cidade que costumava chamar de Bahia, onde viveu, livre e misturado, com o povo, os anos da adolescência, tomando conhecimento da vida popular que iria marcar fundamentalmente sua obra de romancista.
Aos 14 anos, na Bahia, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da "Academia dos Rebeldes", grupo de jovens que, juntamente com os do "Arco & Flecha" e do "Samba", desempenhou importante papel na renovação das letras baianas. Comandados por Pinheiro Viegas, figuraram na "Academia dos Rebeldes", além de Jorge Amado, os escritores João Cordeiro, Dias da Costa, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Sosígenes Costa, Válter da Silveira, Áidano do Couto Ferraz e Clóvis Amorim.
Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.
Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, em 1935. Nunca exerceu a advocacia. Militante comunista foi obrigado a exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia Rosa.
Em 1945, foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e da primeira Câmara Federal após o Estado Novo, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso e por várias leis que beneficiaram a cultura. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai.
Em 1947, ano do nascimento de João Jorge (sociólogo e autor de peças para teatro infantil), primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França, onde ficou até 1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu sua filha Paloma, psicóloga, casada com o arquiteto Pedro Costa. Jorge Amado foi irmão do médico neuropediatra Joelson Amado e do escritor James Amado.
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura.
Foi eleito em 6 de abril de 1961, para a cadeira 23, (quinto ocupante) da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.
VIDA LITERÁRIA
Escritor profissional viveu exclusivamente dos direitos autorais de seus livros.
Prêmios internacionais: Prêmio Internacional Lênin (Moscou, 1951); Prêmio de Latinidade (Paris, 1971); Prêmio do Instituto Ítalo-Latino-Americano (Roma, 1976); Prêmio Risit d'Aur (Udine, Itália, 1984); Prêmio Moinho, Itália (1984); Prêmio Dimitrof de Literatura, Sofia - Bulgária (1986); Prêmio Pablo Neruda, Associação de Escritores Soviéticos, Moscou (1989); Prêmio Mundial Cino Del Duca da Fundação Simone e Cino Del Duca (1990); e Prêmio Camões (1995).
Prêmios nacionais: Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1959); Prêmio Graça Aranha (1959); Prêmio Paula Brito (1959); Prêmio Jabuti (1959 e 1970); Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil (1959); Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1959); Troféu Intelectual do Ano (1970); Prêmio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro (1982); Prêmio Nestlé de Literatura, São Paulo (1982); Prêmio Brasília de Literatura - Conjunto de Obras (1982); Prêmio Moinho Santista de Literatura (1984); prêmio BNB de Literatura (1985).
Títulos honoríficos, nacionais e estrangeiros: Comendador da Ordem Andrés Bello, Venezuela (1977); Commandeur de l'Ordre des Arts et des Lettres, da França (1979); Commandeur de la Légion d'Honneur (1984); Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (1980) e do Ceará (1981); Doutor Honoris Causa pela Universidade Degli Studi de Bari, Itália (1980) e pela Universidade de Lumière Lyon II, França (1987). Grão Mestre da Ordem do Rio Branco (1985) e Comendador da Ordem do Congresso Nacional, Brasília (1986). O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua última viagem a Paris, quando já estava doente.
Membro correspondente: da Academia de Ciências e Letras da República Democrática da Alemanha; da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Paulista de Letras; e membro especial da Academia de Letras da Bahia. Obá do Axê do Opó Afonjá, na Bahia.
Atividades jornalísticas: exerceu desde bem jovem quando ingressou como repórter no Diário da Bahia (1927-29), época em que também escrevia na revista literária baiana A Luva. Depois, no Sul, atuou sempre na imprensa, tendo sido redator-chefe da revista carioca Dom Casmurro (1939) e colaborador, no exílio (1941-42), em periódicos portenhos - La Crítica, Sud e outros. Retornando à pátria, redigiu a seção "Hora da Guerra", no jornal O Imparcial (1943-44), em Salvador, e, mudando-se para São Paulo, dirigiu o diário Hoje (1945). Anos após, participou, no Rio, da direção do semanário Para Todos (1956-58).
Estréia na literatura: em 1930, com a publicação, por uma editora do Rio, da novela Lenita, escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Os seus livros, que ao longo de 36 anos (de 1941 a 1977) foram editados pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, integraram a coleção Obras Ilustradas de Jorge Amado. Atualmente, as obras de Jorge Amado são editadas pela Distribuidora Record, do Rio. Publicados em 52 países, seus livros foram traduzidos para 48 idiomas e dialetos, a saber: albanês, alemão, árabe, armênio, azerbaijano, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebreu, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo (também três em braile), sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcomano, ucraniano e vietnamita.
Livros adaptados: para o cinema, o teatro, o rádio, a televisão, bem como para histórias em quadrinhos, não só no Brasil, mas também em Portugal, na França, na Argentina, na Suécia, na Alemanha, na Polônia, na República Tcheca, na Itália e nos Estados Unidos.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos.
BIBLIOGRAFIA
Obras: O país do carnaval, romance (1931); Cacau, romance (1933); Suor, romance (1934); Jubiabá, romance (1935); Mar morto, romance (1936); Capitães de areia, romance (1937); A estrada do mar, poesia (1938); ABC de Castro Alves, biografia (1941); O cavaleiro da esperança, biografia (1942); Terras do sem fim, romance (1943); São Jorge dos Ilhéus, romance (1944); Bahia de Todos os Santos guia (1945); Seara vermelha, romance (1946); O amor do soldado, teatro (1947); O mundo da paz, viagens (1951); Os subterrâneos da liberdade, romance (1954); Gabriela, cravo e canela, romance (1958); A morte e a morte de Quincas Berro d'Água, romance (1961); Os velhos marinheiros ou o Capitão de longo curso, romance (1961); Os pastores da noite, romance (1964); Dona Flor e seus dois maridos, romance (1966); Tenda dos milagres, romance (1969); Teresa Batista cansada de guerra, romance (1972); O gato Malhado e a andorinha Sinhá, historieta (1976); Tieta do Agreste, romance (1977); Farda, fardão, camisola de dormir, romance (1979); Do recente milagre dos pássaros, conto (1979); O menino grapiúna, memórias (1982); A bola e o goleiro, literatura infantil (1984); Tocaia grande, romance (1984); O sumiço da santa, romance (1988); Navegação de cabotagem, memórias (1992); A descoberta da América pelos turcos, (1994); O milagre dos pássaros, (1997); Hora da guerra.Rio de Janeiro:Companhia das Letras, 2008.

FARDA, FARDÃO, CAMISOLA DE DORMIR


Em 1940, o exército alemão soma vitórias pela Europa. Entre elas, a tomada da cidade de Paris. No Brasil, repressão e tortura são práticas correntes do Estado Novo, regime instituído por Getúlio Vargas em 1937, então ainda simpático ao projeto nazista de Hitler, época de projeção mundial do totalitarismo: “em toda a parte, pelo mundo afora, são as trevas novamente, a guerra contra o povo, a prepotência”.
 No Brasil impunham-se os dias asfixiantes da ditadura estado-novista, com o seu rol de brutalidades e perseguições. E o que Jorge Amado pretendeu, com o seu romance, foi dizer que, mesmo sob a opressão e a tirania, “é sempre possível plantar uma semente, acender uma esperança.”
É neste panorama geopolítico internacional e brasileiro que morre na capital francesa, o poeta romântico e boêmio Antônio Bruno. Com isso, abre-se uma vaga na Academia Brasileira de Letras, fato que vai desencadear uma verdadeira guerra nos meios intelectuais do Rio de Janeiro.
Estruturado em capítulos breves, como um espirituoso folhetim, Farda, fardão, camisola de dormir faz uso de um humor ferino e do ritmo caudaloso da escrita do autor para, a partir de um caso localizado e particular, abordar assuntos universais e mais abrangentes.
A acirrada disputa entre os literatos pode ser comparada, com certa licença poética, à guerra travada em terras europeias. De um lado, está o coronel Agnaldo Sampaio Pereira, simpatizante do nazismo. Do outro, o general reformado Waldomiro Moreira. A querela prolonga-se por longos quatro meses. Mas os dois candidatos não se equiparam ao estilo e à verve do poeta morto. Tampouco aos princípios humanistas de Bruno. Muito menos ao sucesso que este fazia com as mulheres, como a comunista Maria Manuela.
Análise:
Como indica o subtítulo original, “Fábula para acender a esperança”, a narrativa é uma sátira leve e divertida do conservadorismo político da elite, da hipocrisia das tradições familiares e da vaidade intelectual dos literatos.
Passagens da biografia de Jorge Amado estão presentes no romance Farda, fardão, camisola de dormir. A trama da narrativa, sobre a disputa por uma vaga de imortal na Academia Brasileira de Letras, remete à eleição do próprio Jorge Amado para a ABL, ocorrida em 1961.
 Além disso, a época em que viveu o personagem Antônio Bruno, poeta autor de “A camisola de dormir”, foi das mais importantes e conturbadas da carreira do autor. Jorge Amado situa a trama do livro em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial e a ascensão do nazismo. No país, vivia-se o regime ditatorial do Estado Novo (1937-45), quando o escritor foi vítima de censura e perseguição por sua filiação ao Partido Comunista Brasileiro.
Tendo esse cenário político de fundo, o livro procura exaltar a liberdade que ainda se vislumbrava possível. O autor busca despertar no leitor a crença na possibilidade de mudança do status quo. Não à toa essa mensagem está expressa na moral desta fábula, como o próprio autor define a narrativa: “A moral? Veja: em toda parte, pelo mundo afora, são as trevas novamente, a guerra contra o povo, a prepotência. Mas, como se comprova nesta fábula, é sempre possível plantar, acender uma esperança”.
 Jorge Amado escreveu Farda, fardão, camisola de dormir em sua casa de Itapuã, em Salvador, entre janeiro e junho de 1979. O fato de o livro ter sido publicado ainda durante a ditadura militar faz dele, ao abordar tais temas, uma alegoria contra o autoritarismo do passado e também daquele momento histórico.
Foi publicado em Portugal e traduzido para o alemão, árabe, búlgaro, espanhol, francês, hebraico, inglês, italiano, russo e grego.
Texto extraído e,:

Personagens:
·      Antônio Bruno: poeta, amante, livre; “Canto de amor para uma cidade ocupada”;
·      Coronel Agnaldo Sampaio Pereira: Chefe do Sistema de Segurança, nazifascista, almejava a vaga de Bruno;
·      General Waldomiro Moreira: indicado para concorrer com o Coronel almejava ser imortal;
·      Lisandro Leite: Acadêmico, Desembargador, Catedrático indica o Coronel para a vaga de Bruno, almejava o Supremo;
·      Afrânio Portela: literato democrático, liberal, guerrilheiro;
·      Evandro Nunes dos Santos: literato democrático, anarquista, guerrilheiro;
·      Maria Manuela: portuguesa, militante, comunista, esposa do Conselheiro da Embaixada de Portugal, amante de Bruno;
·      Maria João: (Lúcia Bertini) estrela de teatro, Mary John, amante de Bruno;
·      Rosa: costureira, virgem, amante de Bruno;
·      Mariana de Almeida Cintra: balzaquiana, esposa do Rei de Café,  Maria de Médice, mãe do filho de Bruno, Camisola de Dormir; amante de Bruno;.....
JORGE AMADO – ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Em 1961, Jorge Amado é eleito por unanimidade, embora candidato único, para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. Quinto ocupante desta cadeira foi eleito para a sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior. Realizou uma campanha eleitoral seguindo o ritual da Academia de telegramas, telefonemas e visitas aos acadêmicos; e foi empossado com o fardão. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes, estando estreitamente ligado a estas candidaturas.
Jorge declara então para O jornal, em 7 de abril de 1961:
“A principal razão que me levou a candidatar-me à vaga da academia foi encontrar uma série de motivos que a ela me encaminhavam. Meu patrono é José de Alencar; o primeiro ocupante da cadeira 23 foi Machado de Assis e o último a sentar-se nela foi um baiano como eu, o ilustre Otávio Mangabeira. O homem Jorge Amado nunca teve o desejo de entrar para a academia transformado em ambição, mas sempre acalentei o sonho de ser um dos ocupantes daquela cadeira”
Para o Diário Carioca, em matéria intitulada “Gabriela na Academia: Jorge imortal unânime”, o autor, que havia sido opositor a ABL, logo após ter sido eleito, muda o tom de seu discurso, afirmando que a “a academia é o sonho de todo escritor. É a casa da realização de todos nós. O fato de ser imortal aos 43 anos deixa-me feliz, muito feliz”. Em Navegação de cabotagem, em 1992, dá sentido a esta atitude de exaltação da Instituição, justificando ao entrar na Academia imaginava reformá-la, o que não se mostrou possível trinta anos depois, quando faz uma espécie de balanço, em suas palavras:
25 Diário Carioca, 7 de abril de 1961. Pesquisa realizada no arquivo da ABL.
“Ao ingressar na Academia Brasileira o imortal (sic) recente, de fardão novinho em folha, tem a ilusão que irá reformar a instituição, limpar-lhe o ranço, acabar de vez com os preconceitos e as pequenezas, fazê-la como ela devia ser, a Academia, e não será jamais”. (AMADO, 2006: 213)
A entrada de Jorge Amado para a ABL foi largamente noticiada na imprensa. O Globo, em 7 de abril de 1961, destaca que Jorge foi candidato único, eleito por unanimidade. Inúmeras reportagens destacam o importante papel de Jorge como autor internacional e consagrado; sendo estes elementos relevantes para a Academia, na medida em que este autor contribuí para reforçar o seu prestígio. Sobre o que a entrada de Jorge Amado representava para a Academia, o acadêmico Ivan Lins declarou para o jornal que o mais importante neste caso era o valor literário, que na ABL ficava acima das posições políticas:
“Foi uma eleição que honrou o candidato e a academia. Esta provou, que mais uma vez, que aqui cabem escritores de todas as crenças e descrenças: católicos, positivistas, ateus, reacionários, comunistas, simpatizantes. O essencial é que, quaisquer que sejam as suas ideias filosóficas ou religiosas, os candidatos tenham valor”.
O jornal, em 7 de abril de 1961, reproduz uma declaração do presidente da academia, com o mesmo argumento sobre o valor literário da obra de Jorge Amado:
“A Academia vive hoje um dia feliz, porque trouxe ao seu seio uma das expressões mais altas e representativas da literatura brasileira. Jorge Amado tinha lugar marcado em nossa casa, por tudo o que tem feito no campo das letras, pelo prestígio que seu nome alcançou em toda parte onde se cuide dos bens da cultura. Ele é desses valores que ficariam bem no quadro de qualquer Academia, cujo critério da escolha fosse o mais rigoroso”.
O Diário Carioca, apresenta uma crítica ao autor, que pode ser observada desde o nome da matéria, publicada em 8 de abril de 1961, “Jorge, o imortal supérfluo”, na sessão de literatura do jornal. Destaca que o escritor Jorge Amado não precisaria da Academia e quem estava ganhando com seu ingresso era muito mais a Instituição do que o autor já tão consagrado.
O único motivo para sua candidatura, apontado pela reportagem, seria a presunção do escritor. “Para que desejaria Jorge Amado a precária, a ilusória, a materialista glória acadêmica? Só há uma explicação: vaidade.” Além deste destaque a pequena matéria enfatiza a estranheza do fato, já que o escritor entrando na ABL selaria compromisso com as classes sociais que tanto acusou em seus romances.
Em 19 de julho de 1961, o Diário de Notícias destaca que o significado de sua entrada na academia era vista por alguns setores da sociedade como uma ruptura de Jorge com o seu passado - suas posições antiacadêmicas e sua atuação política e por este mesmo motivo seria um fato marcante na vida literária nacional.
Em 16 de abril de 1961, a Folha de São Paulo estampava a matéria “A academia imortalizou um já imortal romancista”, narrando a história de vida e a obra do escritor até o processo de se tornar “imortal” pela Academia. Em 8 de julho de 1961, o Última Hora dava a seguinte manchete: “Imortal pela mão do povo”. Segundo o periódico, Jorge Amado declarou que chegou à academia pela mão do povo e que só com o povo tinha compromisso.
Em 18 de julho de 1961, o Estado de São Paulo afirmava que “em seu discurso o novo imortal rememorou o combate que movera à Academia, na sua mocidade, quando então condenava a política da Casa de Machado de Assis. Justificou, porém, sua posição, que considera caminho normal de todos os que terminam por entrar para a academia. Combatem-na a principio, para defendê-la depois. “Os anos e a experiência – afirmou – mais tarde mostram-nos os erros e nos indicam o caminho certo””. O Jornal do Brasil, na mesma data, enfatiza que Jorge Amado, no seu discurso de posse na ABL, revelou ter participado de um movimento secreto para acabar com ela, e que só não levou o projeto avante porque alguns irmãos de Luz de uma tenda espírita do largo do terreiro de jesus, em Salvador, intercederam em favor dos acadêmicos. Citando Castro Alves, seu conterrâneo, que guiou a sua inspiração e sua rebeldia contra a opressão social e pela liberdade, “Jorge Amado definiu a sua entrada na ABL como uma vitória dessa luta a favor do submundo em que viveu e vivem seus personagens”.
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Referência:
Texto extraído:
MELLO, Marisa Schincariol de. Consagração ou Desqualificação: Jorge Amado, Rachel de Queiroz e a Academia Brasileira de Letras, Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.
GETÚLIO VARGAS – ESTADO NOVO

Dado como um governo estabelecido por vias golpistas, o Estado Novo foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe comunista no Brasil. Para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Campos, aliado político de Getúlio, redigiu uma nova constituição inspirada por itens das constituições fascista italiana e polonesa.
 Conhecida como Constituição Polaca, a nova constituição ampliou os poderes presidenciais, dando a Getúlio Vargas o direito de intervir nos poderes Legislativo e Judiciário. Além disso, os governadores estaduais passaram a ser indicados pelo presidente. Mesmo tendo algumas diretrizes políticas semelhantes aos governos fascista e nazista, não é possível entender o Estado Novo como uma mera imitação dos mesmos.
 A inexistência de um partido que intermediasse a relação entre o povo e o Estado, a ausência de uma política eugênica (Galton definiu eugenia como o “estudo dos fatores físicos e mentais socialmente controláveis, que poderiam alterar para pior ou para melhor as qualidades racionais, visando o bem-estar da espécie”) e a falta de um discurso ultranacionalista são alguns dos pontos que distanciam o Estado Novo do fascismo italiano ou do nazismo alemão.
No que se refere às suas principais medidas, o Estado Novo adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde se criaram mecanismos de controle e vias de negociação política responsável pelo surgimento de uma ampla frente de apoio a Getúlio Vargas.
 Entre os novos órgãos criados pelo governo, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) era responsável por controlar os meios de comunicação da época e propagandear uma imagem positiva do governo. Já o Departamento Administrativo do Serviço Público, remodelou a estrutura do funcionalismo público prejudicando o tráfico de influências, as práticas nepotistas e outras regalias dos funcionários.
 Outro ponto importante da política varguista pode ser notado na relação entre o governo e as classes trabalhadoras. Tomado por uma orientação populista, o governo preocupava-se em obter o favor dos trabalhadores por meio de concessões e leis de amparo ao trabalhador. Tais medidas viriam a desmobilizar os movimentos sindicais da época. Suas ações eram controladas por leis que regulamentavam o seu campo de ação legal. Nessa época, os sindicatos transformaram-se em um espaço de divulgação da propaganda governista e seus líderes, representantes da ideologia varguista.
 As ações paternalistas de Vargas, dirigidas às classes trabalhadoras, foram de fundamental importância para o crescimento da burguesia industrial da época. Ao conter o conflito de interesses dessas duas classes, Vargas dava condições para o amplo desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Além disso, o governo agia diretamente na economia realizando uma política de industrialização por substituição de importações.
 Nessa política de substituições, o Estado seria responsável por apoiar o crescimento da indústria a partir da criação das indústrias de base. Tais indústrias dariam suporte para que os demais setores industriais se desenvolvessem, fornecendo importantes matérias-primas. Várias indústrias estatais e institutos de pesquisa foram criados no período. Entre as empresas estatais criadas por Vargas, podemos citar a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945).
 Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, uma importante questão política orientou os últimos anos do Estado Novo. No início do conflito, Vargas adotou uma postura contraditória: ora apoiando os países do Eixo, ora se aproximando dos aliados. Com a concessão de um empréstimo de 20 milhões de dólares, os Estados Unidos conquistaram o apoio do Brasil contra os países do Eixo. A luta do Brasil contra os regimes totalitários de Adolf Hitler e Benito Mussolini gerou uma tensão política que desestabilizou a legitimidade da ditadura varguista.
 Durante o ano de 1943, um documento intitulado Manifesto dos Mineiros, assinado por intelectuais e influentes figuras políticas, exigiu o fim do Estado Novo e a retomada da democracia. Acenando favoravelmente a essa reivindicação, Vargas criou uma emenda constitucional que permitia a criação de partidos políticos e anunciava novas eleições para 1945. Nesse meio tempo surgiram as seguintes representações partidárias: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrata (PSD), ambos os redutos de apoio a Getúlio Vargas; a União Democrática Nacional (UDN), agremiação de direita opositora de Vargas; e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que saiu da ilegalidade decretada por Getúlio.
 Em 1945, as medidas tomadas pelo governo faziam da saída de Vargas um fato inevitável. Os que eram contrários a essa possibilidade, organizaram-se no chamado Movimento Queremista. Empunhados pelo lema “Queremos Getúlio!”, seus participantes defendiam a continuidade do governo de Vargas. Mesmo contando com vários setores favoráveis à sua permanência, inclusive de esquerda, Getúlio aceitou passivamente a deposição, liderada por militares, em setembro daquele ano.
 Dessa maneira, Getúlio Vargas pretendeu conservar uma imagem política positiva. Aceitando o golpe, ele passou a ideia de que era um líder político favorável ao regime democrático. Essa estratégia e o amplo apoio popular, ainda renderam a ele um mandato como senador, entre 1945 e 1951, e o retorno democrático ao posto presidencial, em 1951.
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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Texto extraído e disponível em: http://www.brasilescola.com/historiab/vargas.htm

Academia Brasileira de Letras (ABL)

A Academia Brasileira de Letras (ABL) é uma instituição cultural inaugurada em 20 de julho de 1897* e sediada no Rio de Janeiro, cujo objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacionais.
Compõe-se a ABL de 40 membros efetivos e perpétuos, e 20 sócios correspondentes estrangeiros.
No fim do século XIX, Afonso Celso Júnior, ainda no Império, e Medeiros e Albuquerque, já na República, manifestaram-se a favor da criação de uma academia literária nacional, nos moldes da Academia Francesa. O êxito social e cultural da Revista Brasileira, de José Veríssimo, daria coesão a um grupo de escritores e, assim, possibilidade à ideia.
Lúcio de Mendonça teve, então, a iniciativa de propor uma Academia de Letras, sob a égide do Estado, que, à última hora, se escusaria a tal aventura de letrados. Constituiu-se então, como instituição privada independente, a Academia Brasileira de Letras.
As primeiras notícias relativas à fundação da ABL foram divulgadas a 10 de novembro de 1896, pela Gazeta de Notícias, e, no dia imediato, pelo Jornal do Comércio. Teriam início as sessões preparatórias: na primeira, às três da tarde de 15 de dezembro, na sala de redação da Revista Brasileira, na Travessa do Ouvidor, nº 31, Machado de Assis foi desde logo aclamado presidente.
A 28 de janeiro do ano seguinte, teria lugar a sétima e última sessão preparatória, à qual compareceram, instituindo a Academia: Araripe Júnior, Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay. Também Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães, também presentes às sessões anteriores, e ainda Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte, que aceitaram o convite e a honra.
Eram trinta membros. Havia mister completar os quarenta, como na Academia Francesa. Assim fizeram os presentes, elegendo os dez seguintes: Aluísio Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domício da Gama, Eduardo Prado, Luís Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça. Os Estatutos foram assinados por Machado de Assis, presidente; Joaquim Nabuco, secretário-geral; Rodrigo Otávio, 1º secretário; Silva Ramos, 2º secretário; e Inglês de Sousa, tesoureiro.
A 20 de julho de 1897, numa sala do museu Pedagogium, à Rua do Passeio, realizou-se a sessão inaugural, com a presença de dezesseis acadêmicos. Fez uma alocução preliminar o presidente Machado de Assis. Rodrigo Otávio, 1º secretário, leu a memória histórica dos atos preparatórios, e o secretário-geral, Joaquim Nabuco, pronunciou o discurso inaugural.
Petit Trianon

Em 1923, o governo francês doou à Academia Brasileira de Letras um prédio, réplica do Petit Trianon de Versailles, construído no ano anterior para abrigar o pavilhão da França na Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro.

Primeira sede própria da Academia, o prédio funciona até os dias de hoje como local para as reuniões regulares dos Acadêmicos e para as Sessões Solenes comemorativas e de posse de novos membros da ABL.
Estatuto                                   
O estatuto da Academia Brasileira de Letras estabelece que para alguém candidatar-se é preciso ser brasileiro nato e ter publicado, em qualquer gênero da literatura, obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livros de valor literário.
Seguindo o modelo da Academia Francesa, a ABL é constituída por 40 membros efetivos e perpétuos. Além deste quadro, existem 20 membros correspondentes estrangeiros.
Os imortais são escolhidos mediante eleição por escrutínio secreto. Quando um Acadêmico falece, a cadeira é declarada vaga na Sessão de Saudade, e a partir de então os interessados dispõem de um mês para se candidatarem, através de carta enviada ao Presidente. A eleição transcorre três meses após a declaração da vaga.
A posse é marcada de comum acordo entre o novo Acadêmico e o escolhido para recepcioná-lo. De praxe, o vistoso fardão é oferecido pelo Governo do Estado natal do Acadêmico.
Texto extraído e disponível em:

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=536 


OBSERVAÇÕES LITERÁRIAS DA VERA

FOLHETIM
O folhetim (do francês feuilleton, folha de livro) é uma narrativa literária, seriada, publicada de forma parcial e sequenciada em periódicos (jornais e revistas). Quanto ao conteúdo: abrange tudo, vida real, assuntos frívolos a sérios, de conversas particulares a acontecimentos políticos. É um registro da vida cotidiana típico do jornalismo. Assim, despertou o interesse das camadas mais pobres pela leitura e colaborou com a construção de uma identidade urbana. Quanto ao estilo: apresenta narrativa ágil, profusão de eventos e ganchos intencionalmente voltados para prender a atenção do leitor.

O folhetim surgiu na França no início do século XIX e fez enorme sucesso na segunda metade do século XIX. Aqui no Brasil, os capítulos eram publicados diariamente em jornais da capital do Império (Rio de Janeiro) e jornais do interior, em espaços destinados a entretenimento.


Autores brasileiros: José de Alencar, Machado de Assis, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e Joaquim Manuel de Macedo tiveram obras suas publicadas em folhetins para depois serem editadas em livros. O romance urbano A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, é considerado o exemplo de folhetim mais popular da história do Brasil, numa época em que a maioria da população era analfabeta.

Herdeiros do Folhetim:
Rádio e Televisão
Radionovelas - O Direito de Nascer reunia famílias e amigos em torno do rádio e causou comoção no público.
Telenovelas - até hoje criam suspense e param o Brasil.
Aqui, nos anos 1940, sob o pseudônimo feminino de Suzana Flag, o escritor Nelson Rodrigues escreveu Meu Destino é Pecar, Escravas do Amor, Minha Vida, Núpcias de Fogo, O Homem Proibido e A Mentira.

No início da década de 70 a revista "Grande Hotel" lançou alguns folhetins traduzidos de autores franceses, sob os títulos Escrava de um Juramento e Sepultada Viva, de Geraldine Aubry, e ainda, Expulsa na Noite de Núpcias e Media: O Inferno de um Anjo, ambos de Henriette de Tremière. Eram ediçoes encartadas em fascículos na citada revista que tinha edição semanal, depois a editora oferecia as capas para encadernação.


Ainda nos anos 70, a antiga revista Capricho, aquela em antigo formato, publicava o folhetim Terra do Sol, da novelista Janete Clair, em suas últimas páginas. Mais tarde, já no decorrer dos anos 80, a revista Manchete encartava os fascículos de Nenê Bonet, também da divina criadora Janete Clair. Era uma trama localizada no Rio antigo, trazendo à tona a época do glamour da Confeitaria Colombo.


FÁBULA

Narração alegórica, com personagens animais, que encerra uma lição moral. A fábula surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por Esopo, escravo que viveu no século V a.C., na Grécia. Cada animal simboliza algum aspecto ou qualidade humana, como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc.

La Fontaine (1621-1695) imprimiu à fábula grande refinamento. George Orwell, com sua "Revolução dos Bichos" (Animal Farm), compôs uma fábula moderna, uma sátira política.

Autores:
Sá de Miranda
Diogo Bernardes
Bocage
Monteiro Lobato
Esopo



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